Menino de Engenho
literatura

Menino de engenho, de casa grande

Menino de Engenho Achei que tivesse lido na época de colégio, mas nenhuma lembrança apareceu nessa teórica releitura de Menino de Engenho, de José Lins do Rego. É um livro curto, agradável e de narrativa em primeira pessoa. Uma leitura fácil, que sempre é minha preferência.

As descrições dos rios, da cabeça da cheia correndo e das armadilhas de passarinho mexe com qualquer um que passou um tempo de sua infância na fazenda, em qualquer fazenda, mesmo que meia dúzia de férias de inverno. “Um sonho de menino é maior que de gente grande, porque fica mais próxima da realidade” e ao final da infância, e do livro, “perdera a inocência, perdera a grande felicidade de olhar o mundo como um brinquedo maior que os outros“. Os contos de dona Totonha, que depois vieram a embasar um livro, são docemente recordados. Dona Totonha “possuía um pedaço do gênio que não envelhece“. Há também a produção de Glauber Rocha para o cinema, que ainda não vi.

Ele faz questão de deixar claro a aceitação dos negros e dos párias do engenho, de terrível miséria, e da aceitação dessa situação: “A cheia tinham-lhes comido os roçados de mandioca, lavando o quase nada que tinham. Mas não elvantavam os braços para imprecar, não se revoltavam. Eram uns cordeiros“, … “homens que ningéum davam nada por eles – mas uma gente com quem se podia contar na certa para o trabalho mais duro e a dedicação mais canina“, … “suas filhas e netas iam-lhes sucedendo à servidão, com o mesmo amor à casa-grande e a mesma passividade de animais domésticos“, além de “senhor feudal ele foi, mas os seus párias não traziam a servidão como um ultraje“.

Com essas passagens e lendo agora Casa Grande & Senzala, percebo que a amizade de Gilberto Freyre e José Lins era realmente grande. Fico também com a má impressão de que há uma velada e apologia à pobreza, à ignorância e à servilidade: “e eram mesmo abençoados por Deus, porque não morriam de fome e tinham o sol, a lua, o rio, a chuva e as estrelas para brinquedos que não se quebravam” sobre os filhos dos párias em suas péssimas condições. Fica também bastante claro a dificuldade do explorador em ver a situação do explorado, talvez em especial por uma razoável convivência entre os dois:

O costume de ver todo dia essa gente na sua degradação me habituava com sua desgraça. Nunca, menino, tive pena deles. Achava muito natural que vivessem dormindo em chiqueiros., comendo um nada, trabalhando como burros de carga. A minha compreensão da vida fazia-me ver nisto uma obra de Deus. Eles nasceram assim porque Deus quisera, e porque Deus quisera nós eramos brancos e mandávamos neles. Mandávamos também nos bois, nos burros, no mato.

A casa grande realmente vencia com facilidade a senzala e a igreja. Parece que ainda vence seus cordiais amigos.

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