Tenho dificuldades com poesia. Entre ela e a prosa, fico com a mais fácil.
Assisti o longo e às vezes entediante filme sul coreano Poesia. Lembro que a resenha de algum colunista da Folha mencionava com especial atenção a cena da sala de aula, quando a protagonista recebe a tarefa de observar bem uma maçã. O professor decidira passar essa lição, pois considerava que “a poesia é ver melhor“. Ver melhor, como a cena acima, de Beleza Americana, que agora ganha um pouco da minha admiração. Antes, considerava essa como a pior parte desse magnífico filme.
Dias depois me deparei com o poema A Arte de ser Feliz, de Cecilia Meireles. Um texto direto e simples, e que senti passar uma mensagem muito parecida a dos dois filmes:
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Talvez seja esse o segredo, enxergar a beleza do comum, do ordinário? Parece que esse também era o segredo do Tejo de Fernando Pessoa, que sempre estava diante de sua janela, de sua aldeia:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
Será que isso é poesia? Ou é apenas mais um carpediem “use filtro solar”?
Acho que a poesia e a arte em geral envolvem enxergar o cotidiano de uma forma diferente. Mas não só ver beleza no comum, como também realçar o grotesco, aquilo que evitamos prestar atenção, refletir sobre.
Penso que a vida fica mais leve e mais feliz quando deixamos de idealizar uma felicidade grandiosa, sempre a espera, impossivel de alcancar, e passamos a enxergar a intensidade de coisas que a priori nos parecem tao banais.
O post encaixa num texto que eu fiz outro dia, falando um pouco sobre isso: http://serendipiando.wordpress.com/2011/03/18/fim-de-semana/
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