literatura

Niilismo atavista

Bazarov, em Pais e Filhos, de Turgueniev:

O lugar insignificante que ocupo é tão minusculo em comparação com o resto do espaço em que não estou e onde não se importam comigo. A parcela de tempo que hei de viver é tão ridícula em face da eternidade, onde nunca estive e nunca estarei… Neste átomo, neste ponto matemático, o sangue circula, o cérebro trabalha e quer alguma coisa… Que estupidez! Que inutilidade!

E muitos sentem esse mesmo peso do nada. Ele vem dos nossos ancestrais:

Meu pai, ah que me esmaga a sensação do nada!
— Já sei, minha filha… É atavismo.
E ela reluzia com as mil cintilações do Êxito intacto.

Não por acaso, esse poema de Manuel Bandeira chama-se Nietzschiniana. Demorei alguns anos até poder interpretar este, que é um dos poemas preferidos de minha esposa.

Talvez venha de antes de Turgueniev, de antes de Nietzsche. Venha do ato 5, cena 5 de Macbeth:

Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã arrastam-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia, até a última sílaba do registro dos tempos. E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre palhaço que por uma hora se espavona e se agita no palco, sem que depois seja ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muito barulho, que nada significa.

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Um comentário em “Niilismo atavista

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