cotidiano, literatura

A resistência de Ziraldo ao ebook

Acho interessante ver como ícones importantes das nossas vidas teimam em resistir a mudanças. De mudanças que eles consideram negativas, sem muito embasamento. Durante a bienal do livro de 2012, Ziraldo atacou o livro digital. Chamou até os filhos da geração atual de idiotas, ou algo bem próximo a isso. Eu não entendo os problemas de foco e atenção da geração Y. Ziraldo vai além.

Em vez de trabalhar junto com as mudanças, insistem apostar na contra mão, querem provar que o jeito deles é melhor que o da nova geração (aliás, a geração atual se tornou ‘idiota’ para Ziraldo). Para o bem ou para o mal, Ziraldo será engolido por essas mudanças.

Lembro de um artigo sobre a troca de imagens íntimas entre pré adolescentes através da internet. O articulista foi muito feliz e sensato, começando o artigo com algo como “essa exposição das crianças é um fato. elas vão enviar essas fotos. precisamos então saber como trabalhar com essa realidade”. Isso se aplica bem ao ebook.

Vou ulular ao dizer que haverá sempre espaço para o livro físico. Assim como há para o vinil, para o CD. Seja pela qualidade, intimidade ou por mera nostalgia. Difícil mesmo é saber se haverá espaço para ouvir as inseguranças de Ziraldo.

Claro que há pontos interessantes nas falas do Ziraldo, e que ele quer certamente melhorar a educação brasileira. “Bote um livro na mão do seu filho e ensine o domínio da leitura” é bom. Opinar que nossa geração (ou nossos filhos) está ficando idiota, não é. Aliás, parece uma dessas opiniões sem embasamento estatístico nenhum, dado que na nossa geração não apenas a elite tem acesso ao estudo. Parecido com o mito de que a violência está piorando no mundo.

Comentários

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3 comentários em “A resistência de Ziraldo ao ebook

  1. Tal disse:

    Caro, Paulo !

    Sou um admirador do seu talento e conhecimento técnico e o via também como um grande personagem intelectual, assim como grandes profissionais que trabalham na Caelum, geralmente gosto de ler não somente o comentário, mas a fonte da qual foi baseado o comentário. Peço para que por favor, entenda o que o autor quis dizer.

    Não estou do lado do Ziraldo, mas sim do que é justo. O Ziraldo não está falando mal da internet e nem dizendo que os jovens estão ficando idiotas à toa. Disse “Nós temos a internet que pode ser a fonte da vida e do conhecimento, mas o computador é usado como brinquedo”. De fato, os jovens usam o computador para ver vídeos inúteis no youtube, usam o facebook para ver o que as meninas estão publicando ou acompanhando resultados de futebol e UFC. Certa vez perguntei à uma amiga o que ela havia achado do livro “Ensaio sobre a cegueira” de José Saramago, então ouvi a seguinte resposta: “Não gostei muito não, nada a ver , as pessoas ficam cegadas do nada. Não faz sentido.” Os jovens podem até ter a capacidade de ler, mas não entender o que estão lendo, o chamado analfabeto funcional. Em todo lugar que vou vejo jovens comentando sobre quem deve sair do BBB, ouço aquelas discussões de futebol que quase acabam em briga, mas não vejo os jovens falando sobre as ameaças da Coréia do Norte provocando uma 3a. Guerra, ou jovens discutindo sobre o que deveria ser feito para mudar o rumo da humanidade, vejo jovens votando em Tiririca, não vejo jovens procurando refletir o significado da PL 122, que é a criminalização do preconceito e discriminação, isso significa que o povo ultrapassou o limite do bom senso e respeito, por isso a lei precisa ser mais rígida, os jovens estão cada vez mais intolerantes com o seu semelhante, tudo o que importa agora são: Funk, Sexo, UFC, futebol, BBB e muitos outros lixos que existem por ai.

    Enfim, o Sr. Ziraldo diz que a internet é uma poderosa arma contra a desinformação, porém está sendo usado como brinquedo para passar o tempo.

    Sobre o livro convencional, não vejo em suas palavras que está contra o livro digital, mas alerta sobre a importância de se manusear um livro físico, o sentimento que se passa ao folhear cada página, isso eu concordo, quando desejo tocar o coração da minha esposa não envio um e-mail, mas pego uma bela folha de papel, e com uma caneta capricho na minha letra, dessa forma consigo transmitir melhor meus sentimentos.

    Ler um livro, não é simplesmente obter a informação, é também viajar no tempo e sentir que está vivendo na mesma época do autor. Cheirar o local onde se passa a história, ver e sentir o que o autor vê e sente, ouvir os barulhos que estão na história, sentir o gosto da comida que se serve. Ou seja, ler um livro é viajar nos 5 sentidos. É claro que é possível tudo isso com um livro digital, até certo ponto, perde-se um pouco dos sentidos quando o livro é digital.

    Atualmente estou procurando fontes de pessoas cultas para acompanhar, fui infeliz em ser esse o primeiro artigo que leio em seu blog, mas vou continuar a ler seus comentários. Ainda te admiro tecnicamente, não posso levar a bandeira da intelectualidade, pois assim como você sou um pseudo intelectual.

    Grande abraço.

    • Paulo Silveira disse:

      oi Fulano! Agradeço seu comentário detalhado.

      Depois de discutir esse episódio no Facebook, e de ter recebido semelhantes críticas, confesso que levei as palavras do Ziraldo para o lado extremo e li mais do que havia. Às vezes alguém te fala algo e as palavras tomam uma proporção maior que a qual o orador tinha em mente, por te tocarem. Foi esse o caso aqui.

      Sobre a geração utilizar mal a internet, precisaríamos de números e de uma pesquisa séria para poder dizer. Você tem toda razão em ir mais a fundo na fonte. Tanto eu, quanto Ziralndo, quanto você precisamos de números para poder afirmar categoricamente, não apenas o seu exemplo do Saramago, nem qualquer exemplo que eu tenha.

      Mas tenho a impressão que podemos estar enganados: hoje os jovens de quase todas as classes tem acesso a internet. Fosse há 100 anos, a história seria outra e apenas a elite dominaria tal tecnologia. É como comparar o colégio público atual com o antigo. Antigamente apenas a elite tinha acesso ao colégio público, Ziraldo estudava em colégio público, nossos escritores estudavam em colégocio público, como toda a elite. Com o passar do tempo, as outras classes ganharam acesso a educação.

      Creio que esse possa ser um daqueles mitos, como o da violência no mundo (que na verdade está em queda livre há alguns séculos, mas vivemos repetindo que o mundo está cada vez mais violento). Fonte: http://www.ted.com/talks/steven_pinker_on_the_myth_of_violence.html

      Já a parte mais técnica, menos subjetiva, acho que o livro digital vai sim superar essas limitações: será possível até mesmo cheirá-lo, além de anotar nas bordas e deixar dedicatórias. Não se engane: livros de literatura eu só leio o físico! Também tenho essa preferência pelo papel.

  2. Luís disse:

    “Chamou até os filhos da geração atual de idiotas, ou algo bem próximo a isso”

    E isso é errado? Essa tal de geração Y é uma merda. Geração Y só ser for de ipsilon semialeijão (valeu Huxley).

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