literatura

Orgulho e Preconceito na Quarta Extra

Quarta Extra. É com esse nome que se chama a grande promoção que o supermercado realiza toda quarta feira.

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Na semana passada, estive no Extra da Ricardo Jafet com Marcela. Aberto 24 horas. Gigantesco. Posto de gasolina em frente. Marcela não gosta muito de fazer as compras nesse dia da semana por lá: as prateleiras parecem ter sido atingidas por um grupo de figurantes do Walking Dead e sobreviventes, com alguns produtos derrubados e outros abertos. Sinal do sucesso!

Paro o carro no estacionamento, que fica embaixo do mercado, mas longe do acesso das escadas rolantes. Há poucas vagas. Pegamos um carrinho de compras e subimos.

O ambiente é bastante familiar. Há até espaço para massagens, cabeleireiro, venda de peixinhos e uma farmácia. Não posso deixar de comentar sobre a musicalidade do ambiente. Naldo e Jorge Vercillo parecem estar no repeat. Naldo toca o Whisky ou Água de Coco, Pra cima! Já Jorge Vercillo tem uma música do homem-aranha. Ponto para o Naldão.

Fico na seção das carnes, pois preciso organizar o churrasco. Com a idade, estou assumindo esse meu lado tiozão. Marcela visita, com o carrinho de compras, diversas seções onde geralmente não sei distinguir um produto do outro. Em 20 minutos estamos no caixa, pedindo o CPF na nota.

Descemos. Paramos o carro longe das escadas rolantes. Cruzamos toda a garagem até o lado oposto, quando começamos a mover as nossas compras do carrinho para o porta-malas.

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Fechado o porta-malas, chega o grande momento da Marcela: levar o carrinho de compras para o seu devido lugar. Preciso frisar que Marcela tem alguns TOCs-positivos, como todos nós. Um deles, por exemplo, é com lixo reciclável: ela pode surtar se alguém não separá-los ou dispensá-los indevidamente. O outro é com a carrinhos de compra de supermercado: é necessário levá-los até seu ninho principal, e nunca largá-los no meio do estacionamento ou nos sub-ninhos (aqueles pequenos grupos de carrinhos que acabam se amontoando pela preguiça de nós, compradores). O ninhão de carrinhos de compra está longe, bem longe, lá no acesso às escadas rolantes.

“Paulo, eu vou levar o carrinho até lá e você me pega na porta de vidro das escadas rolantes, tá?” Tá!

Dou a partida do carro e saio pelo corredor, em direção a saída. Chegando próximo das escadas rolantes, vejo um senhor mais velho, com a aparência muito humilde, de camiseta de futebol pra lá de velha. Ele carrega duas pequenas sacolas do supermercado e vai em direção a um corcel bastante judiado. Minha cabeça começa a pensar nas possibilidades: estou feliz que muitas pessoas possam ter acesso a um supermercado não tão barato quanto o Extra. Como é possível haver alguém que seja contra o acesso universal de bens que antes só a classe média privilegiada tinha? Como é possível haver alguém que seja contra a orkutização dos aeroportos? (sim, esses são os pensamentos que estavam na minha cabeça naquele momento final das compras). Sobre os aeroportos, tenho visto cada vez mais gente tirando fotos de seus primeiros vôos. É facil encontrar algum adulto que esteja viajando pela primeira vez, e é difícil que ele contenha a emoção e a adrenalina, além de querer registrar tudo no seu smartphone! Uma pena algumas pessoas se sentirem incomodadas com isso. Apenas um desses seres é muito combustível para o blog do Sakamoto!

Faço a curva em direção ao posto de gasolina, logo após a saída do supermercado. Vou desacelerando pois há uma cancela. Repentinamente vejo que algo está errado, o meu instinto-aranha-vercillo percebe um vulto em um dos retrovisores.

Sim, o possível bandido que me aborda na saída do supermercado é a própria Marcela, que vem com ar ofegante, me seguindo com passos apertados. Eu só não tomo um susto maior pois, ao mesmo tempo que preciso descobrir quem está do lado de fora, dou pela falta dela!

Aqui tudo acontece muito rápido: fico preocupado, temendo pela minha integridade física, ao perceber que praticamente esqueci a Marcela no supermercado em um intervalor de 2 minutos! E nem no Gmail eu estava! Qual seria o estado de espírito dela nesse momento? Penso tudo isso enquanto aperto o botãozinho do vidro elétrico. Eu vou me desculpar, mas ela está sorrindo e diz que “desde o lugar combinado você estava andando devagar, então eu vinha correndo atrás achando que um pouquinho mais pra frente iria parar!”. Destravo a porta do passageiro, ela entra sem entender muito bem o que eu aconteceu comigo.

Já que ela continua sorrindo, e como nenhuma mentira apropriada me dá na veneta, eu confesso: “Esqueci você!”.

Um simples LOL não basta. É UHhuauahuahuHAuHAuah. É a onomatopéia mais próxima do que aconteceu.

Ela entra no carro, contina sorrindo, e eu gargalhando. Gargalhando ao volante, daquele jeito que dói o abdomen, por grande parte da Ricardo Jafet. O downside da história é que Marcela ficou arisca a ideia de eu levar os futuros bebês no carro sem ela.

Marcela, por favor, dê risada novamente enquanto relembra dessa sua quarta-feira.

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