cotidiano

Opiniões difíceis: carros blindados e deportação

Existem opiniões difíceis de formar, e que até evitamos expressar, como o direito ao aborto, a liberação de algumas drogas e a pena de morte, mas provavelmente todos nós temos a nossa. Sinto amargura quando não consigo nem mesmo secretamente opinar sobre determinado assunto. Compartilho dois exemplos.

A Du Pont é um daqueles conglomerados recordistas de patentes, inovando a todo momento. Recentemente fez mais progressos no ramo da segurança e blindagem, sendo também o berço do kevlar.

É lugar-comum discorrer a repeito da neurose em relação a segurança, e como isso nos sensibiliza facilmente, do possível muro que se ergue dividindo a população. O excesso de grades me incomoda até ao receber o entregador de pizzas: fico acanhado com a situação. O mesmo constrangimento ocorre quando o garoto de rua levanta a camiseta e dá uma volta antes de pedir dinheiro no farol, informando de que não está armado. Difícil é traduzir essa sensação em um video, e a e a Du Pont o fez. Ele é estarrecedor: tratar da violência com extrema leveza, com direito a música amigável e assovios alegres. Lembra-me das propagandas do Activia, elevados a enésima potência. A publicidade é branca, até literalmente. Mais ainda, aborda uma espécie de “inclusão de segurança”, pois agora não só a classe alta pode ter acesso a essa (pseudo?) segurança. A propaganda me fez continuar em dúvida se a evolução da blindagem de carros é algo bom. Devo ficar feliz e correr para a concessionária ou devo me juntar aos que vão dizer que esse investimento em pesquisa fora mal destinado, e de que deveríamos procurar a raiz do problema (educação, saúde para todos, desarmar os civis, …)?

O mesmo ocorre na deportação do imigrante ilegal. Será que eu, os franceses e os alemães ainda ficariam revoltados se soubessem que o imigrante maliano molestara uma criança? Mas e se fosse apenas o roubo de um celular, ele mereceria tal tratamento? Para piorar: qual seria o crime cometido por ele que deixaria você confuso sobre o seu próprio julgamento, sem saber opinar?

E você, em qual outra situação acha difícil opinar?

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