cotidiano, literatura

A resistência de Ziraldo ao ebook

Acho interessante ver como ícones importantes das nossas vidas teimam em resistir a mudanças. De mudanças que eles consideram negativas, sem muito embasamento. Durante a bienal do livro de 2012, Ziraldo atacou o livro digital. Chamou até os filhos da geração atual de idiotas, ou algo bem próximo a isso. Eu não entendo os problemas de foco e atenção da geração Y. Ziraldo vai além.

Em vez de trabalhar junto com as mudanças, insistem apostar na contra mão, querem provar que o jeito deles é melhor que o da nova geração (aliás, a geração atual se tornou ‘idiota’ para Ziraldo). Para o bem ou para o mal, Ziraldo será engolido por essas mudanças.

Lembro de um artigo sobre a troca de imagens íntimas entre pré adolescentes através da internet. O articulista foi muito feliz e sensato, começando o artigo com algo como “essa exposição das crianças é um fato. elas vão enviar essas fotos. precisamos então saber como trabalhar com essa realidade”. Isso se aplica bem ao ebook.

Vou ulular ao dizer que haverá sempre espaço para o livro físico. Assim como há para o vinil, para o CD. Seja pela qualidade, intimidade ou por mera nostalgia. Difícil mesmo é saber se haverá espaço para ouvir as inseguranças de Ziraldo.

Claro que há pontos interessantes nas falas do Ziraldo, e que ele quer certamente melhorar a educação brasileira. “Bote um livro na mão do seu filho e ensine o domínio da leitura” é bom. Opinar que nossa geração (ou nossos filhos) está ficando idiota, não é. Aliás, parece uma dessas opiniões sem embasamento estatístico nenhum, dado que na nossa geração não apenas a elite tem acesso ao estudo. Parecido com o mito de que a violência está piorando no mundo.

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iPad ou Kindle, qual é o melhor leitor digital?

comparativo entre ipad e kindle Em outubro li meus dois primeiros livros em leitores digitais. Li ambos utilizando o software Kindle Reader da Amazon, e variava entre usar o dispositivo Kindle propriamente dito e usar o iPad. Cheguei até a ler pedaços desses livros no reader no próprio Mac e em um celular Android, graças ao fundamental recurso de sincronizar entre aparelhos, possibilitando a leitura a partir da última “página” visitada.

Os livros foram The Humbling, do Philip Roth (na esperança de gostar tanto quanto Everyman) e We, de Yevgeny Zamyatin, precursor de 1984 e Admirável Mundo Novo. Ambos são curtos, mas demorei bastante para ler We, não sei exatamente o porquê: talvez a tradução do russo do começo do século XX para o inglês com palavras novas para mim, ou até mesmo os nomes dos personagens fáceis de confudir, pois são todos números.

Direto ao ponto: dado o peso e preço do iPad, além de sua difícil utilização mesmo para responder emails profissionalmente, o meu campeão é o Kindle. Se futuramente o iPad ficar menor e bem mais leve, poderá justificar seu preço alto. Resultado: vendi meu iPad praticamente sem uso e quero comprar o Kindle do meu pai.

Segurar um iPad sem apoio é bastante cansativo, e, mesmo minha literatura sendo noturna, é bastante incômodo ajustar sua posição até achar uma sustentável. Depois você fica naquele estado de tensão: não pode se mexer ou precisará reorganizar sua postura para que o peso do iPad não consuma toda ATP de seus pulsos. O Kindle é mais leve do que um livro de tamanho médio, sem contar seu tamanho. Já que nunca leio sob sol, o LCD do iPad não seria um problem. Nessa questão de luz, para mim, o Kindle perde um pouco: preciso ligar o abajur para utilizá-lo à noite.

Sobre o software do Kindle (Kindle Reader, para diferenciar do aparelho), que roda tanto no iPad quando no Kindle, ele é idêntico em ambos dispositivos. Acho que há ainda um longo caminho a percorrer: o software só possui dicionário inglês, não possibilita tradução de termos e palavras de maneira fácil e utiliza números e porcentagem em vez de páginas, que é bastante confuso e dá a sensação de você estar parado na leitura. Há pontos positivos que surpreendem, desde a sincronização que falei aqui, até a forma que ele indica as seções mais destacadas por outros leitores, mostrando um futuro promissor de como iremos compartilhar e debater mais os livros.

Algumas edições são péssimas. Desconfie dos preços baixos e leia os comentários. As publicações em português parecem ser oportunistas em sua grande maioria, até mesmo com digitalizações incompletas. Mesmo livros clássicos das principais editoras possuem graves erros, desde layout até de mispelling. Foi o caso com o We, e eu cheguei a dar uma estrela na amazon, dado erros crassos de digitalização (como o absurdo de trocar a letra I pelo número 1! onde está a revisão?). A Amazon respondeu dizendo que repassou ao publisher.

Não faz parte do papel de um leitor digital, mas sobre o quesito internet, onde o iPad deveria brilhar, ainda deixa a desejar: responder emails ou realizar qualquer outra tarefa que utilize o teclado virtual é um sacrifício, para não dizer impossível caso você não tenha um apoio. O browser do Kindle é realmente primitivo, mas se você só necessitar usar a internet em casos de emergência com o seu leitor, ele quebra o galho. Além de ter “3G ilimitado” no Brasil.

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