cotidiano

O amanhã e a manhã

Amanhã“, formada de “a+manhã“. Sua etmologia parece ser de “ad maneana“, onde mane/a/na também pode ser usado como manhã.

O amanhã me trouxe muitas surpresas. Era noite de festa. Um aniversário talvez. Eu devia ter 10 anos quando meu primo Claúdio, à meia noite e meia, demonstrava seu conhecimento sobre meridianos, mesmo 1 ano mais novo:
– Já é sexta feira.

Como poderia ser sexta-feira? Era quinta-feira, tinhamos acabado de jantar e eu ainda não havia dormido. Fiquei indignado. Cláudio então me explicou que o término de um dia não está relacionado ao ato de dormir. Curioso pensar que todos passamos por esse aprendizado, de que o “amanhã” não é dormir “até a manhã seguinte“. Lembra-se de como era ver o relógio passar das 11:59 para as 12:00? Encanto pueril.

Em o Mercador de Veneza, vi que o inglês shakesperiano utiliza “good morrow“, e daí temos o “to-morrow“. Em russo a brincadeira é à avessa: “vetchera” é ontem, e “vetcher” é noite. Procurei rapidamente em outras linguas, mas não achei a relação. Aposto que o português, o russo e o inglês não são as únicas.

Tento ir mais longe: quando será que tivemos os primeiros conceitos do amanhã? Quando criança, nada havia a ser feito amanhã, só existia o hoje e o agora. Creio que o amanhã só surja junto com as primeiras responsabilidades, as primeiras lições de casa, a expectativa para a chegada do natal. Parece ser um pouco antes da pré-adolescência. Deve haver estudos sobre isso.

Na infância reinava a falta de preocupação com o amanhã. Bom? Talvez. Mas melhor agora, que tenho o dobro, podendo ansiar pelo amanhã, além de gozar o hoje.

Padrão