literatura

Tradução do poema Último Brinde de Anna Akhmatova

Eis minha primeira tentativa de uma tradução literal de um poema. É o Последний тост de Ахматова Анна (Anna Akhmatova). No original:

Я пью за разоренный дом,
За злую жизнь мою,
За одиночество вдвоем,
И за тебя я пью,—

За ложь меня предавших губ,
За мертвый холод глаз,
За то, что мир жесток и груб,
За то, что Бог не спас.

Aqui há uma tradução atribuida a Rubens Figueiredo (o tradutor que está ficando famoso com os volumosos livros de Tolstoi pela Cosas-Naify):

Bebo ao lar em pedaços,
À minha vida feroz,
À solidão dos abraços
E a ti, num brinde, ergo a voz…

Ao lábio que me traiu,
Aos mortos que nada vêem,
Ao mundo, estúpido e vil,
A Deus, por não salvar ninguém.

Minha fraca tradução literal (pior só google translator), sem rima nem métrica, para manter o impacto do impressionante “одиночество вдвоем”:

Eu bebo ao lar despedaçado,
À minha vida cruel,
À solidão a dois,
E a você eu bebo, –

Ao lábio que me traiu,
Ao frio mortal dos olhos (de seus olhos?),
Ao mundo, que é duro e cruel,
A Deus, que não salva.

Quanta felicidade! 🙂

Aqui há uma tradução em inglês.

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Poesia: aprendendo a olhar

Tenho dificuldades com poesia. Entre ela e a prosa, fico com a mais fácil.

Assisti o longo e às vezes entediante filme sul coreano Poesia. Lembro que a resenha de algum colunista da Folha mencionava com especial atenção a cena da sala de aula, quando a protagonista recebe a tarefa de observar bem uma maçã. O professor decidira passar essa lição, pois considerava que “a poesia é ver melhor“. Ver melhor, como a cena acima, de Beleza Americana, que agora ganha um pouco da minha admiração. Antes, considerava essa como a pior parte desse magnífico filme.

Dias depois me deparei com o poema A Arte de ser Feliz, de Cecilia Meireles. Um texto direto e simples, e que senti passar uma mensagem muito parecida a dos dois filmes:

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Talvez seja esse o segredo, enxergar a beleza do comum, do ordinário? Parece que esse também era o segredo do Tejo de Fernando Pessoa, que sempre estava diante de sua janela, de sua aldeia:

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

Será que isso é poesia? Ou é apenas mais um carpediem “use filtro solar”?

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