cotidiano

A palavra ‘sim’ em português

Tenho impressão que isso é forte no país inteiro: basicamente, não utilizamos mais a palavra sim.

Repare:

“Não entendi, aí você pegou a Av. Paulista?”
“Isso!”

“Não entendi, aí você pegou a Av. Paulista?”
“É!”

“Não entendi, aí você pegou a Av. Paulista?”
“Peguei!”

Pode substituir a pergunta por o que você preferir. “Você quer chocolate?”. “Quero”. “É” e “Isso” também aparecem nesse caso, em especial se a conversa já estava em andamento, ou se a pergunta foi feita apenas para confirmar um pensamento. Situações exatamente onde “Sim” deveria se encaixar.

Uma versão em que o sim aparece, mas não isoladamente, é esta: “Você quer chocolate?”. “Quero sim”.

Mas o “Sim”, isolado, soa bastante não familiar. Diferente do “Não”, que aparece o tempo todo.

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Por conta da revista Veja: a língua portuguesa

Vícios de linguagem. A revista Veja publicou um artigo alertando o excesso de uso da locução “por conta de, comparando-a à expressão “a nível de“. Louvável. E curioso.

Curioso: se você fizer uma rápida pesquisa no Google, verá que o site veja.abril.com.br tem mais de 29 mil ocorrências de “por conta de“. Indo além, a revista emprega mais de 2 mil vezes o termo “a nível de”. E para estarrecer: o próprio autor do artigo usa a criticada locução 30 vezes em seu blog!

Como bom anti-vejista clichê, não deixei barato. Twitei para o autor, que me respondeu prontamente na defensiva. Disse que os casos relatados são todos no sentido causal, mas bem que poderiam ser substituídos por “em razão de“, “em decorrência de” ou “devido a“, conforme ele mesmo indicou.

Prefiro ouvir os ensinamentos do Bechara, que aceita muito bem os excessos do popular, a nível de “risco de vida“. Um post curto e chato, por conta da falta de modéstia da revista.

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Chico Buarque e o pretérito imperfeito

Estou cada vez mais intrigado com o uso do pretérito imperfeito no lugar do futuro do pretérito. Da próxima vez que eu for recriminado pelo uso de “Eu queria (quereria) um BigMac“, cantarei um Chico Buarque:

Ah, se eu soubesse não andava na rua.
Ah, se eu pudesse te diria na boa.
Ah, se eu soubesse nem olhava a lagoa.
Ah, se eu pudesse não caía na tua.

Repare que apenas a segunda frase emprega o imperfeito do subjuntivo + futuro do pretérito. Todas as outras utilizam o imperfeito do indicativo. Para ficar homogêneo, a segunda frase deveria ser “se eu pudesse te diZia na boa”, ou então todas as outras deveriam mudar (andaria/olharia/cairia), utilizando a norma culta.

A letra completa está aqui.

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