literatura

Julieta e o sumiço de Peppa

Eu tinha mais uma reunião na Avenida Paulista, às 16h00. Dessa vez no novo café do Mirante da 9 de Julho, que fica ao lado do MASP. Como estava na região do Paraíso, resolvi ir a pé.

Próximo ao hospital Santa Catarina, dois agentes do Greenpeace me dão ‘Boa tarde’ com os braços estendidos. Passo ileso. Avisto o senhor que vende ‘Papyrus importado do Egito’ e suas relíquias. É aí que encontro uma banca de bonecos artesanais e mesmo de longe reconheço a má educada Peppa Pig. Rónc rónc.

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Ela tem o tamanho ideal e cabe na minha bolsa. Penso: “A Julieta vai amá-la mais ainda”. A artista é simpática porém não me perdoa: R$ 30. “Faço R$50 se você levar o George”. Exagero, dáp só a menina. Passo o restante do dia imaginando qual será a reação da Julieta, minha afilhada de 2 anos, que aprendeu a dançar balé com esta porca e a madame Gazela.

Perto das 19h30 chego à casa de meus pais. Julieta está lá, com os avós. Ela percebe a existência de um pacote parece que pelo cheiro! “Pesenti”. Pede ajuda para abrir. “Peppa”. É isso aí, e o match é perfeito.

Depois da janta, meu pai decide buscar um remédio na casa de minha irmã, mãe de Julieta. Minha mãe e minha irmã ficarão em casa. Fica a 5 minutos de casa e eu aproveito para pedir carona. Minha afilhada não fica para trás e “qué passia”. Descemos os três para a garagem. “Péppa”! Sim, pode levar a Peppa. Descemos os quatro para a garagem.

Dentro do carro, preparamos Julieta no banco de trás. Percebo que ela se distraiu e deixou a porquinha ao lado da cadeirinha. Resolvo dar um susto na pequenina e coloco a Peppa em sobre o teto do carro, do lado de fora, só para escondê-la um pouquinho. Enquanto isso, temos diversos problemas com o fecho da cadeirinha.

Nunca imaginei que passaria por uma situação dessas. Fechar o cinto de segurança dessa cadeirinha é simplesmente rocket science. São três plugues que precisam se encaixar simultaneamente, sem muita clareza.

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Meu pai de um lado do carro, eu pelo outro, ambas as portas traseiras escancaradas. Parecíamos mecânicos em uma tarefa complicada. Tenta daqui, tenta dali e, somente depois da Julieta comunicar uma dica com os dedinhos, logramos êxito.

Partimos. O caminho até a casa da mãe de Julieta é bastante conhecido pela menina. Grita “Bolo!” indicando a proximidade da padaria que frequenta. “Farmácia!”, “Parquinhu!”, “Casa!” e continua acertando as diversas localizações. Ao chegar, meu pai decide subir ao apartamento de minha irmã sozinho para buscar o remédio e eu fico com Julieta aguardando no carro. Assim que a porta é fechada, Julieta me indaga: “Cadê Pêppa?”.

Cadê a porca!? Eu consegui concluir tudo em um átimo, mas ainda tentei procurar. No chão do carro? Nada. Ao lado da cadeirinha? Nada? “Peppa, peppa tiu Paulu”. No banco da frente? “Queru Péppa”. Até esse momento, ainda havia sorrisos no rosto da garota. O desespero tomava conta do meu. Maldita suína, eu a esqueci em cima do carro!

Abro a porta para olhar sobre o carro em uma tentativa que não tinha chance de sucesso: o caminho possui várias ladeiras. Peppa Pig escorregou em algum lugar do caminho. Uma porquinha tão jovem tinha poucas chances de sobreviver sozinha à noite nas ruas paulistanas.

Meu pai chegou enquanto eu ainda estava atônito. “Peppa, tiu Paulu”. Meu pai, ainda sem saber da história, formou coro com a neta: “Onde está a Peppa Juju”? Explico-lhe o ocorrido e ele dá risada ao mesmo tempo que pensa em uma solução. “Cadê Péppa? Peppa! PEPPA PEPPA PEPPA”. A situação piora.

Ligo para minha irmã. “Ana, você pode descer e fazer o caminho do carro?”. Ela decide sair à caça da pequena animala mesmo de pijamas, pois sabe da importância da missão. “Peppa, tiu Paulu, Juju quer Peppa”. Meu pai está me levando para casa e eu tenho elucubrações sobre quando poderei ir novamente à Paulista comprar uma nova Peppa, ou ao menos pechinchar o solitário George pelos R$20 de diferença.

De repente, via Whatsapp, recebo uma única mensagem da minha irmã. É uma imagem. Recomendo discrição ao rolar a página, pois a cena é forte.

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A porca passa bem. Julieta melhor ainda, mesmo sem ainda reencontrar o objeto de desejo. Meu pai me deixa em casa e eu vou me deitar com a tranquilidade de saber que minha afilhada terá uma infância tão boa quanto a minha: com desenhos duvidosos, tios que mimam e bonequinhos hipinotizantes.

Pela manhã, minha mãe me conta que Julieta dormiu agarrada à porca.

Titio bobinho.

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